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MECANISMO

Carmen Fortes
12.03 – 30.12.20

Desde 2005, o Programa de Artes Visuais do Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões também seleciona propostas de novos artistas, abrindo espaço para suas primeiras mostras individuais. A exposição MECANISMO da artista Carmen Fortes é um exemplo de primeira individual que tomou forma na Sala da Torre do Palacete. Antiga cozinha da fase de moradia dessa casa centenária, desde 2019, a Torre do Palacete passou a abrigar proposições artísticas da cena contemporânea.

Assista a videoaula “Mecanismo Ativo – prática artística com Carmen Fortes” preparado especialmente para a 12a. Semana de Arte, Cultura e Literatura Digital da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba.

MECANISMO foi apresentada na Sala da Torre em 2020

“A artista produz representações daquilo que nos é familiar. A velha xícara de porcelana, a sobra de um bolo confeitado, o armário antigo passado de mão em mão, a garrafa de refrigerante vazia. Os objetos camuflam-se de memória afetiva e funcionam como ready-mades: a partir de um momento, não remetem a mais nada além deles mesmos”.

– ASTRID FAÇANHA –

#TextoCrítico

Dois gramas de tinta e um sem número de motivos

_Astrid Façanha

Ao comprimir o tempo no espaço limitado da tela, Carmen Fortes propõe a representação de uma natureza-morta cujos elementos não se encontram distribuídos de forma linear na estrutura da composição: são justapostos anarquicamente a partir de camadas de existência reveladas no entra e sai de cena que nos traga para dentro da pintura. O acúmulo como resultado de uma sequência de atos da vida cotidiana traz resquícios por toda parte da presença do consumo e do excesso e dali se cria a experiência do corpo ausente no espaço cenográfico habitado. 

Uma vida narrada através de objetos naturais e culturais do cotidiano foi o motivo encontrado pela artista para operar uma meta-narrativa que reúne a disseminação de valores chaves da pintura ocidental com a crítica ao que significa ser pintora na contemporaneidade. Representações daquilo que nos é familiar como a velha xícara de porcelana, a sobra de um bolo confeitado, o armário antigo passado de mão em mão, a garrafa de refrigerante vazia, o joystick perdido por ali, sobrepostos uns aos outros, formam uma camuflagem de memória afetiva que se prolifera e se volta para os valores tradicionais do realismo, do ilusionismo e da mimese. Funcionando como ready mades, não remetem a mais nada, além deles mesmos: rastros do cotidiano adicionados à superfície do quadro como fragmentos de uma montagem ou de uma colagem. A artista já não pinta, desenvolve uma para-pintura.

O familiar como elemento citacional. O objeto que encara e confronta e o sujeito fetichizado na retórica dos objetos inanimados. Revelados aos poucos e em partes, cada fragmento traz uma perspectiva própria que o coloca em um lugar singular na composição, ao mesmo tempo dentro e fora do contexto, apresentando-se como parte do todo sem perder o rastro com sua alteridade. Essa dupla leitura despregada de uma narrativa fixa, desorienta o olhar e conduz a vagar pela tela em busca de pontos de fuga que se revelam oblíquos e cantos que descobre serem côncavos. 

O desenrolar de uma possível representação pictórica é interrompido nas camadas de existência que se dobram sobre si, formando um único baixo relevo cartográfico da vida. “Eu não faço pintura de observação”, explica Carmen Fortes, deixando claro que só pode pintar aquilo que vive e habita e o que pode ser e sentir. Pintora do seu tempo e de sua vida, a artista se percebe impregnada pela história da arte ocidental, mas sem compromisso com o legado instituído, elege movimentos e técnicas para subverter como forma de homenagear, sem parar por um minuto de apontar para o reservatório de objetos universais guardados em gabinetes de curiosidades. O que esperar de uma pintora contemporânea que abre mão de uma carreira, quase perde a vida e finalmente se reconhece artista?

Astrid Façanha – É doutoranda em Estética e História da Arte na Universidade de São Paulo – PGEHA/USP

Sobre a artista
Carmen Fortes é formada pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). Participou de coletivas, entre elas “Mulheres Artistas” (Museu de Arte de Cascavel, 2019) e do 44º Salão de Artes de Ribeirão Preto (2019) e XXV Salão Curitibano de Artes Visuais (2018). “Mecanismo” é sua primeira individual realizada em 2020 na Sala da Torre do Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões.

Texto Astrid Façanha Design Gráfico Jaime Silveira Fotos e Vídeo Rafael Dabul

A exposição #Mecanismo é uma realização do #BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, por meio do Edital de Exposições de Artes Visuais (2019-2020).