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Misancene

Helena Sofia, Guilherme Soffi, Marianna Pizzatto e Nina Miyamoto
17/09/2025 a 31/10/2025

O Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões inaugura em 17 de setembro a exposição coletiva Misancene, com trabalhos de Helena Sofia, Guilherme Soffi, Marianna Pizzatto e Nina Miyamoto. Desde a graduação em Artes Visuais pela EMBAP, os artistas vêm organizando mostras coletivas colocando em diálogo suas pesquisas em pintura.

Helena Sofia – FEV 76

O título faz referência ao conceito de mise-en-scène – a disposição de elementos no espaço cênico no teatro e no cinema –, adaptado para a sonoridade em português como Misancene, em alusão às encenações pictóricas que atravessam suas obras.

As pinturas partem de múltiplas referências: além do imaginário cinematográfico, incluem arte erótica japonesa, imagens sacras e de expiação, fotografias amadoras, literatura e temas ligados à sexualidade e às relações afetivas. As composições oscilam entre o cartunesco, o descritivo e o expressivo, e, embora distintas, se articulam na justaposição no espaço expositivo, revelando tensões entre inocência e erotismo, contemplação e voyeurismo, fantasia e assombro.

Guilherme Soffi – Passagem

“Mesmo partindo de uma linguagem do instante, cada pintura carrega um dinamismo intrínseco, evocando memórias iconográficas que são reinterpretadas pelos artistas por meio de interesses da atualidade e questões íntimas.”, explica a curadora Isadora Mattiolli.

A mostra abre em 17 de setembro, às 18h, e fica em cartaz até 31 de outubro de 2025. A programação inclui visitas mediadas com os artistas e a curadora, as datas estarão disponíveis no site brde.com/palacete/programacao.

Isadora Mattiolli, curadora

O cinema e o teatro compartilham um modo de organizar seus universos cênicos conhecido pelo termo mise-en-scène, a arte de dispor corpos no espaço. Quando eficaz, ela constrói um microcosmo que separa intencionalmente o espaço performático do espaço social, produzindo uma confusão entre percepção e realidade. Seja no palco ou na tela, criamos identificação com a narrativa e a entendemos como real ao longo de sua duração. Cada forma de espetáculo faz uso de suas técnicas para coordenar essa impressão de realidade, de modo a suspender nossa subjetividade e permitir que vivamos uma outra vida por algumas horas. A pintura, objeto desta exposição, por sua vez, pertence a outro regime de imagem, que não depende da duração, mas do instante. Ainda assim, também parece capaz de organizar seus elementos como cena. Poderia a pintura proporcionar semelhante suspensão da realidade?

Marianna Pizzatto – O Cisne

Por muito tempo, a pintura foi considerada uma arte de tradução do real. Na encenação pictórica, os artistas condensam toda uma narrativa em um único quadro, diante do qual nos demoramos, observando com calma cada pormenor construído por camadas de tinta. Há também aqueles que nos oferecem um contato mais prolongado com sua visão de mundo, trabalhando em série, o que nos permite uma intimidade com seus temas recorrentes e interesses simbólicos. A mise-en-scène é precisamente aquilo que não se pode ver, mas que, ainda assim, está lá. Ela se manifesta em cada cenário, objeto, figurino, gesto, expressão e na relação infinita entre todos esses elementos, que nos aproximam de um real transformado, isto é, de uma ficção. Cada linguagem enunciada dispõe de artifícios narrativos estáticos, temporais ou sequenciais que, ainda que produzam efeitos distintos, nos envolvem e nos lançam dentro de um enredo. 

Nina Miyamoto – Mahou tsukai / 魔法使い


Reescrever o termo Misancene, tal como o pronunciamos em português, foi uma forma de localizar o conceito no presente que aproxima Guilherme Soffi, Helena Sofia, Marianna Pizzatto e Nina Miyamoto, artistas que atualizam em suas poéticas uma ideia de encenação pictórica. Estes se utilizam de tradições técnicas e iconográficas de outros tempos e sociedades para discutir questões contemporâneas e biográficas. A partir da influência de uma cultura visual ampla e pop, seus trabalhos trazem como assunto a flânerie, o erotismo, o voyeurismo, o fetiche e o profano – um repertório vasto que nos coloca como se diante de vários filmes projetados simultaneamente. Os planos, o fora do quadro, o foco e o close-up são recursos das imagens em movimento apropriados nessas pinturas, que possuem uma escala em diálogo com a telona. Rapazes observados absortos em seus pensamentos; corpos masculinos sensualizados habitando um espaço urbano vibrante; iniciados protagonizando martírios, torturas, entre outros rituais e cultos; fragmentos de uma atmosfera etérea, delicada e cor de rosa corrompida por algum tipo de degradação são algumas das sinopses que cada artista encena com tal devoção que nos faz acreditar fielmente em suas histórias. Por suas minúcias, as imagens apresentadas nesta exposição nos fazem roteiristas, inquietos para imaginar justamente as imagens que faltam e curiosos pelos desfechos possíveis.

SOBRE OS ARTISTAS

Helena Sofia (2001) é formada no curso de Bacharelado em Artes Visuais da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2023). A partir de 2023 passou a fazer parte de diversas exposições coletivas, entre elas, duas montagens da exposição Commedia em Curitiba, na PF: espaço de performance arte e ateliês e posteriormente na Galeria Ponto de Fuga. Em 2025, participou da exposição Misancene, montada na Fundação de Arte de Ouro Preto. Sua pesquisa consiste da exploração da pintura a óleo e na abordagem de temas como infância, memória, religiosidade e o grotesco.

Guilherme Soffi (Curitiba, 1986) concluiu no ano 2023 o Bacharelado em Escultura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, UNESPAR, Campus – 1. Desenvolve desde 2015 sua pesquisa em arte por meio de recortes críticos da sociedade atual e das relações humanas na contemporaneidade, com suas respectivas camadas de superficialidade e efemeridade. Constrói, dessa maneira, a temática e a narrativa das imagens que realiza em pintura. Utilizando-se da observação, o artista escolhe imagens, situações e ambientes que marcam as suas intenções, tendo-os como ponto de partida de seu processo criativo.

Marianna Pizzatto (Pato Branco, PR 2001) é artista visual e pesquisadora formada no Bacharelado em Artes Visuais pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). Atuante no campo desde 2022, vem realizando projetos culturais e exposições em espaços de arte em Curitiba, São Paulo, Ouro Preto e Portugal. A poética pessoal da artista atravessa odisseias fictícias e a raiva feminina através de símbolos presentes no seu imaginário, destacando elementos visuais de sua pesquisa, como a languidez de imagens vazias, a permanência desconfortável, a idealização de algo que não existe mais e a concepção do feminino. Entre paisagens desérticas, retratos e placas abandonadas na beira da estrada, Marianna tece uma narrativa fragmentada onde cada trabalho é visto como o frame de um filme perdido, um eidolon hollywoodiano.

Nina Miyamoto (Maringá, PR 1998) é artista visual, formada em Bacharelado de Artes Visuais pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2024). Participou da residência artística no Museu Casa Alfredo Andersen (2024), e de exposições coletivas em Curitiba, Ouro Preto, São Paulo e Tóquio (2024 2025). Sua pesquisa envolve a produção de pinturas eróticas sobre madeira utilizando técnicas e materiais tradicionais da pintura japonesa nihonga (日本画): a partir de uma perspectiva feminina nipo-brasileira tem como preferência a representação exclusiva do corpo masculino, repensando questões sociais e de gênero. Também explora a própria identidade cultural através das estampas com motivos de influência brasileira e japonesa, além das possibilidades visuais dentro da pintura geradas pela incorporação do suporte de madeira na imagem.

Misancene – Helena Sofia, Guilherme Soffi, Marianna Pizzatto e Nina Miyamoto.
Abertura: 17 de setembro de 2025, às 18h
Período expositivo: de 18 de setembro a 31 de outubro
de terça a sexta, das 13 horas às 18 horas, última entrada às 17h30.

Artistas Helena Sofia, Guilherme Soffi, Marianna Pizzatto e Nina Miyamoto Curadora Isadora Mattiolli  Assessoria de Comunicação Renata Borges Todescato Estagiária de Jornalismo Isabeli Cristine Guerreiro Comissão Cultural BRDE Mariana Bernal, Paulo Marques e Sandro Hauser Coordenação de Cultura Mariana Bernal Mediação Kathia Bello

Cartaz da exposição Misancene

A exposição “Misancene” pela Comissão do Edital de Ocupação 2024 – 2025 do BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul.