A exposição “Amazônia – mergulho caleidoscópico entre dragas e dragões” distribuída pelas duas salas expositivas do Espaço Cultural BRDE, apresenta por um lado a relação colorida e entusiasmada que Vilma estabelece com o cotidiano amazônico, durante as viagens prolongadas em grandes barcos descendo os rios Amazonas, Solimões, Negro, Juruá, Branco, Madeira e Tapajós. E de outro as dragas e dragões como um alerta sobre as ameaças do garimpo, do mercúrio e do desmatamento.
Rio Branco, 2020. Vilma Slomp
Os registros fotográficos, feitos no período de 2014 a 2024, são testemunhos de um corpo que se embrenhou em uma experiência viajando em pequenos aviões, em ônibus pela rodovia Transamazônica BR 230, a bordo de embarcações, dormiu em redes ao ritmo das correntezas e viu o pulsar da vida ribeirinhas sobre terra firme desvendando a exuberância natural em contraste com dragas, mercúrio e garimpeiros.
“A pesquisa de Vilma é um jogo de opostos: onde suas imagens revelam a grandiosidade que pulsa no cotidiano da vida ribeirinha ao mesmo tempo que evidencia as cicatrizes da exploração. Nesse diálogo entre luz e sombra, a fotografia emerge como um território da memória.” comenta Mariana Bernal, coordenadora do Espaço Cultural BRDE.
Rio Juruá, 2023. Vilma Slomp
#Texto da exposição
Vilma Slomp, outono 2025
2014 iniciei um projeto interessada em conhecer e fotografar a Amazônia navegando seus rios por longos períodos nos grandes barcos em prolongadas viagens, dormindo e sonhando nas redes e parando para conhecer pequenas cidades, comunidades ribeirinhas e indígenas.
Um dos meus interesses desta pesquisa foi a vivência e a contemplação entre a floresta e o rio na vida cotidiana amazônica participando dos mitos ou das tempestades cíclicas tormentosas.
Caboclos e indígenas são os ribeirinhos vivendo na paisagem da floresta à beira de rios, lagos e igarapés onde o cotidiano é a sobrevivência por meio da pesca e do cultivo de mandioca. O cenário da natureza com sua força selvagem muda drasticamente nas duas estações anuais, o inverno com chuvas diárias de dezembro até maio e o verão com a estiagem dos rios de junho até novembro, trazendo ao olhar as marcas da natureza e o convívio em harmonia com o indivíduo no clima equatorial.
Observar a diversidade é fascinante e o encantamento pela natureza é imensurável no cenário das águas dos rios Amazonas, Solimões, Negro, Branco, Juruá, Madeira e Tapajós – onde os dias e as noites nas florestas, o infinito do céu e das margens – o silêncio é quase paz.
O grande privilégio é vivenciar a riqueza cultural de seus habitantes onde a clorofila e a vida se fundem em fontes que inspiram a narrativa em linguagens metafóricas da realidade visível, com todas as suas potências e questionamentos. Descendo os rios Madeira e Tapajós vendo mineradores do garimpo ilegal em dragas contaminando a água dos rios com mercúrio, expõe-se um fator determinante para o genocídio dos ribeirinhos e a extinção de etnias indígenas inteiras: o desaparecimento das memórias.
O tempo explode e amedronta vendo as paisagens das florestas sendo queimadas durante 24 horas caminhando para a cruel realidade de serem substituídas por fazendas de grãos e gado para alimentar a China e aumentar o nosso PIB, seríamos coniventes até terminar as florestas?
Há décadas a dominação é exploratória, o drama humano e ambiental é ignorado pelos poderes políticos – em Brasília a Amazônia é um balcão de negócios.
Esta obra é a vivência de luzes e cores retumbantes ao meu redor, junto aos ribeirinhos, e a fusão de retratos de indígenas com interferência de joias icônicas do mercado internacional compradas sem o certificado de origem.
Estamos vivenciando a veiculação constante na mídia sobre o drama ambiental da Amazônia, que aos poucos perde o impacto da tragédia – onde a clorofila e a vida se fundem entre o sonho, a poesia e o pesadelo. O universo da Amazônia amedronta, expande a reflexão sobre a existência humana. Mais de 1100 rios atravessam o tapete verde no mapa terrestre, onde as diferenças entre o Norte e o Sul – nas suas dimensões sociais, no clima e a força da natureza – viram do avesso um artista em busca do conhecimento: desconstrói e pulsa.
Rio Juruá, 2023. Vilma Slomp
Sobre a fotógrafa:
Vilma Slomp é fotógrafa, vive e trabalha em Curitiba. Autodidata em fotografia, iniciou sua formação artística em 1968, estudando desenho e pintura. Participou de exposições coletivas e individuais que percorreram diferentes países, e tem obras nos acervos da Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, Tepper Takayama Fini Arts em Boston, Cymroza Art Gallery em Mumbai e a Lionel Wendt Gallery em Colombo, no Sri Lanka. Além de suas exposições, Vilma tem cinco livros publicados: Feliz Natal, Dor, Ilusão, Vísceras em Vice Versa e Curitiba Central.
Rio Madeira, 2023. Vilma Slomp
“Amazônia – mergulho caleidoscópico entre dragas e dragões” – Vilma Slomp Abertura: 04 de junho de 2025, às 18h Encerramento: 27 de junho de 2025 de terça a sexta, das 13 horas às 18 horas, última entrada às 17h30.
Fotógrafa Vilma Slomp Texto da exposição Vilma Slomp Assessoria de Comunicação Renata Borges Todescato Estagiária de Jornalismo Isabeli Cristine Guerreiro Comissão Cultural BRDE Mariana Bernal, Paulo Marques e Sandro Hauser Coordenação de Cultura Mariana Bernal Mediação Kathia Bello
A exposição “Amazônia – mergulho caleidoscópico entre dragas e dragões” foi selecionada pela Comissão Cultural do #BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul.